terça-feira, 15 de março de 2011

Código penal celeste de Nilton Bonder. Ed.Campus

A jornalista Eva Spitz faz uma crítica muito bacana deste livro no jornal O Globo.Segue na íntegra:
Vulnerabilidade, o passaporte para se ter uma vida integral.

Em vários livros publicados, e particularmente neste, o autor, rabino por vocação e exercício, mistura seus sólidos conhecimentos extraídos dos livros sagrados, para oferecer elementos filosóficos de reflexão para constituição de uma  ética para além do bem e do mal.Neste "Códico penal celeste"ele bebe nas fontes de sua tradição (os rabinos classídicos) e na psicanálise para criar uma nova ordem jurídica a fim de compreender as penalidades atribuídas aos céus. "A consciência e a utopia humana por perfeição acabaram por gerar a expectativa do mais cruel código penal do universo. O universo que não conhecia a punição a descobriu na consciência humana".

Pontuado de parábolas que datam de 150 a 1500 anos atrás, o livro propõe uma constituição baseados em princípios extraídos dos Dez Mandamentos e das Dez Pragas Originais, em que as regras para a vida na terra dependem de como abordá-las. O autor acredita que estaremos mais perto das leis do universo quanto mais nos reflertirmos nesse espelho e admitirmos um modo próprio de agir, que inclui necessariamente o risco, a tensão e até as inconsistências, que nos revitalizam e fazem oscilar entre o que é do  momentto e o sagrado, e nos permite mergulhar na miséria e redescobrir a virtude. Pois como diz: "para copeendermos do que trata a justiça celeste temos que nos libertar da propaganda que fez dos céus um repositório de fantasias terrenas...No centro dessa propaganda estão os conceitos de paraíso e de inferno".

Que o digam as religiões, os manipuladores do medo e da própria realidade: a questão do bem e do mal está mais viva do que nunca (apesar de seu perfil mais holístico no século XX, com a multiplicidade, as conscidências significativas, o yin e yang fundindo-se e expandindo-se para espantar a angústia e o simplismo do maniqueísmo). Bonder identifica como os maiores crimes contra o patrimônio existencial o estar ausente diante da vida, o abuso de julgamento e da crítica (falso testemunho), a intolerância para consigo mesmo. Contravenção, para ele, é abusar do ato de sentir dor e medo. As ausências são experiências fragmentadas em que uma e até duas porções do corpo são inibidas e, portanto, orrompidas.Um fato que pode ser associado à morte precoce é o popular "mau olhado". Ou  olhar equivocado" de quem identifica o mal contido nele mesmo em tudo que vê.

No tribunal criado pelo rabino Nilton Bonder as responsabilidades celestes não se ocupam  da extinção da vida do outro, mas da vida do próprio agente dessa escolha. Todo assassinato se origina da ilusão de falta de opção. Todo assasssinato se inicia numa morte interna através da negação de aspectos de si mesmo que constituem pequenos suicídios. Matar o outro é escapar de perceber matando a si mesmoque constituem pequenos suicídios. O autor cria uma espécie de tribunal terreno conectado com o tribunal celeste em que cada ser humano pode-se referendar para conduzir a sua vida,sem ficar estagnado no erro ou no acerto, pois o ciador não é um policial de dimensões cósmicas.

Na verdade, diz ele, o eu e o divino se encontram na nudez e na vulnerabilidade. Para começar ninguém será cobrado no tribunal celeste por seus erros. Erros não condenam, muito pelo contrário, ajudam a estabelecer parâmetros para os limites e podem conduzir à benção que implica transformação e renovação. Mas os erros produzidos pela culpa e pela vergonha são matéria procedente de acusação. A culpa é fatal.A moral vigente deseja construir uma realidade onde todos serão punidos automaticamente. Mas, a rigor, só somos punidos literalmemte ou por justiça terrena ou por fazermos de nossas vidas um inferno.

Excomungando a culpa, propondo a vulnerabilidade do ser como passaporte para vida integral, é dessa forma que Nilton Bonder ousa adequar o códice divino á realidade cotidiana, sem sair da esfera dos ensinamentos sagrados. E avança: de que adianta a culpa sem o ato de restauração? Original e curiosa a sua maneira de apropriar de conceitos da esfera jurídica, como contravenção e infração, induto, anistia, dando-lhes conotação psicanalíticas. E as ilustrações Maria Klabin ajudam a desvelar portais.

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