sábado, 28 de agosto de 2010

Ferreira Gullar-Poesia

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém,
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão

Uma parte de mim
pesa;pondera;
outra parte 
delira

Uma parte de mim
almoça e janta;
outra parte 
se espanta

Uma parte de mim
é permanente;
outra parte 
se sabe de repente

Uma parte de mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem

Traduzir uma parte 
na outra parte 
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte?
  

Um comentário:

Cris António disse...

Simplesmente fantástico o poema, trabalhei com minha primeira turma de filosofia há alguns anos, e foram muito ricas as (re)construções feitas...